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  • Percy Jackson e os Olimpianos: a saga que inspirou a série de TV

    A literatura juvenil é repleta de histórias marcantes, mas poucas conseguiram unir mitologia, aventura e representatividade como a saga Percy Jackson e os Olimpianos. Escrito por Rick Riordan, o universo criado pelo autor conquistou milhões de leitores ao redor do mundo e, mais recentemente, deu origem à série de TV produzida pela Disney+.  

    Neste artigo, você vai conhecer a fundo a trajetória dos livros, curiosidades da saga e como ela inspirou a produção televisiva que reacendeu o interesse por esse universo mitológico moderno.

    Tudo começou em 2005, com o lançamento de O Ladrão de Raios, primeiro volume da série Percy Jackson e os Olimpianos. Rick Riordan, professor de história e mitologia, escreveu a história inicialmente como uma forma de entreter seu filho, que sofria de dislexia e TDAH

    A escolha por um protagonista com essas mesmas características não foi apenas uma homenagem, mas também um gesto de representatividade, algo raro na literatura infantojuvenil da época.

    Todos os cinco livros da saga Percy Jackson, escritos por Riordan. (Fonte: Penguin)

    Qual é a ordem dos livros de Percy Jackson e os Olimpianos?

    A saga Percy Jackson e os Olimpianos é composta por cinco livros principais:

    Qual é a história do livro Percy Jackson e os Olimpianos?

    A história acompanha Percy Jackson, um adolescente de 12 anos que descobre ser um semideus, filho de Poseidon, o deus grego dos mares. A partir daí, ele é levado ao Acampamento Meio-Sangue, um local seguro para jovens heróis como ele, e se vê envolvido em missões perigosas, batalhas épicas e revelações familiares surpreendentes.

    Um dos grandes trunfos da saga está na forma como Rick Riordan traz os deuses do Olimpo para o século XXI. Zeus, Hades, Atena e outros personagens da mitologia grega ganham traços modernos, mantendo suas características originais, mas interagindo com o mundo real de maneira criativa e convincente.

    Nova York se torna o palco principal da história, com o Monte Olimpo situado no 600º andar do Empire State Building. Já o portal para o submundo de Hades é localizado em Los Angeles. Essas reinterpretações não só divertem, como também despertam o interesse de leitores jovens pela mitologia clássica, muitas vezes ignorada fora do ambiente escolar.

    Desde seu lançamento, a saga Percy Jackson e os Olimpianos vendeu mais de 180 milhões de cópias ao redor do mundo, sendo traduzida para mais de 40 idiomas. Ela foi responsável por introduzir uma nova geração ao gênero da fantasia mitológica e inspirou diversos spin-offs, como as séries Os Heróis do Olimpo, As Provações de Apolo e As Crônicas dos Kane (esta última baseada na mitologia egípcia).

    Além disso, Percy Jackson tornou-se símbolo de identificação para jovens com dificuldades de aprendizado, oferecendo um herói com quem muitos leitores se enxergam — algo que impacta positivamente o engajamento e a autoestima de crianças e adolescentes.

    Como o livro virou série da Disney?

    Em 2010 e 2013, dois filmes baseados nos dois primeiros livros da saga foram lançados: Percy Jackson e o Ladrão de Raios e Percy Jackson e o Mar de Monstros. Apesar do elenco promissor, as adaptações receberam críticas severas por parte dos fãs e do próprio autor.

    As mudanças no enredo, na personalidade dos personagens e até na faixa etária do protagonista comprometeram a fidelidade ao material original. Rick Riordan chegou a declarar publicamente sua insatisfação com os roteiros, dizendo que sequer assistiu aos filmes completos.

    Essa experiência negativa fez com que o fandom desacreditasse na possibilidade de uma adaptação digna — até a chegada de uma nova promessa: a série da Disney+.

    Em 2020, Rick Riordan anunciou em suas redes sociais que a saga ganharia uma nova adaptação, desta vez em formato de série, com envolvimento direto do autor no roteiro e na produção. A expectativa era grande — e a promessa era clara: fidelidade aos livros.

    A série Percy Jackson e os Olimpianos estreou em dezembro de 2023 no Disney+ com Walker Scobell no papel de Percy, Leah Jeffries como Annabeth Chase e Aryan Simhadri como Grover Underwood. O primeiro episódio já demonstrou o tom fiel à obra original, respeitando os personagens, o universo mitológico e o público leitor que cresceu com a saga.

    Além da representação diversificada, a série investe em efeitos visuais modernos, cenários bem construídos e uma narrativa que equilibra ação, emoção e humor, como nos livros. O envolvimento direto de Riordan ajudou a garantir que o coração da história permanecesse intacto — o que foi celebrado pelos fãs e pela crítica especializada.

    Com a primeira temporada baseada em O Ladrão de Raios, os planos são adaptar um livro por temporada. A boa recepção inicial e a base sólida de fãs devem garantir a continuidade da série, permitindo que novas gerações descubram (ou redescubram) o mundo dos semideuses.

    A Disney+ aposta na franquia como uma de suas maiores produções infantojuvenis dos últimos anos, algo comparável ao sucesso de Harry Potter no passado. Com isso, a saga de Percy Jackson se firma como uma das obras mais importantes da literatura juvenil contemporânea, agora com um futuro promissor também nas telas.

    Curiosidades sobre Percy Jackson e os Olimpianos

    • TDAH e dislexia como superpoderes: na saga, essas condições são explicadas como características dos semideuses. O TDAH é a habilidade de estar sempre alerta em batalha, e a dislexia ocorre por seu cérebro estar “programado” para ler grego antigo; 
       
    • Base real na mitologia: todos os monstros, deuses e lendas retratados na história têm origem nas mitologias gregas clássicas, com adaptações criativas feitas por Riordan; 
       
    • Camp Half-Blood no mundo real: inspirado no Acampamento Meio-Sangue, há um acampamento temático oficial nos Estados Unidos onde fãs vivenciam experiências como se fossem semideuses; 
       
    • Referências culturais modernas: ao longo dos livros, há diversas piadas e citações que remetem à cultura pop e à realidade dos adolescentes americanos, tornando a leitura ainda mais envolvente;

    Percy Jackson e os Olimpianos é mais do que uma saga de fantasia: é uma ponte entre o antigo e o novo, entre os mitos da Grécia Antiga e os desafios do mundo moderno. Com uma narrativa acessível, cheia de ação e emoção, Rick Riordan criou um universo que encanta leitores de todas as idades — e que finalmente ganhou uma adaptação à altura nas telas da TV.

    Se você ainda não conhece o mundo dos semideuses, essa é a hora de mergulhar nessa aventura épica. E se já é fã, aproveite para reviver essa jornada acompanhando a série e compartilhando esse universo com novos leitores.

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  • ‘Não vejo problema em cadastrar biometria de menores de idade’; empresas falam sobre registro facial nos estádios

    A partir deste sábado (14), fãs de futebol do Brasil terão que se adaptar a uma nova realidade nos grandes estádios: todas as arenas com capacidade para mais de 20 mil pessoas terão que realizar a identificação biométrica dos espectadores.

    Apesar das críticas e polêmicas (que você pode ler no link abaixo), a novidade é encarada de forma positiva por alguns torcedores. Inclusive, dirigentes de empresas que atuam com a chamada tecnologia de reconhecimento facial (TRF) garantem que o país terá mais benefícios do que prejuízos.

    Nestas duas reportagens especiais, o TecMundo fará uma análise dos impactos e um balanço sobre os rumos da privacidade e da segurança não só nos eventos esportivos, mas também em todos os outros grandes eventos públicos e privados. 

    A Lei Geral do Esporte

    As regras que entram em vigor neste 14 de junho de 2025 começaram a ser debatidas em meados de 2017. À época, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 68/2017 foi criado para, dentre outras coisas, dar transparência financeira, administrativa, moralidade e responsabilidade social na gestão esportiva. A norma instituía a Lei Geral do Esporte (LGE).

    Depois de muitas idas e vindas, vetos, emendas, relatórios e debates, as normas que já tinham se transformado no Projeto de Lei (PL) 1.825/2022 foram aprovadas pelo Senado em maio de 2023. No mês seguinte daquele ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a LGE, que virou a Lei Nº 14.597.

    A LGE tem cerca de 200 artigos e acaba legislando sobre centenas de aspectos como a formação esportiva, ciclos olímpicos e paralímpicos, bolsa-atleta, gestão temerária do esporte e até como funciona o Subsistema Nacional do Esporte Militar.

    O estádio do Botafogo, Nilton Santos, já tem biometria facial. (Imagem: Getty Images)

    O termo “segurança” é citado na LGE por mais de 20 vezes, sendo que o ponto de debate sobre a TRF está especificamente no artigo 148. O trecho ressalta que o “espectador tem direito à segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das provas ou partidas”.

    E uma das formas de promover essa proteção dos torcedores é justamente via TRF. “O controle e a fiscalização do acesso do público à arena esportiva com capacidade para mais de 20.000 (vinte mil) pessoas deverão contar com meio de monitoramento por imagem das catracas e com identificação biométrica dos espectadores”, informa o trecho.

    O artigo 148 ainda obriga os estádios a terem uma central técnica de informações com infraestrutura para “viabilizar o monitoramento por imagem do público presente e o cadastramento biométrico dos espectadores”.

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    A partir entre Grêmio e Corinthians em dezembro de 2024. (Imagem: Getty Images)

    Antes do artigo 149, há ainda um parágrafo único pontuando que a regra de biometria deveria entrar em vigor em no máximo dois anos (prazo que se encerra neste 14 de junho de 2025). Apesar da exigência, a LGE não especifica nenhuma penalidade para administradores de estádios que não instalarem e utilizarem a TRF nas catracas. A falta de uma punição clara pode, inclusive, fazer com que clubes não utilizem ou pelo menos atrasem a tecnologia.

    Como funcionam as tecnologias de biometria?

    Apesar de chegarem só agora nas arenas que realizam grandes eventos, as tecnologias de biometria alcançam muita gente durante o período eleitoral, já estão nos celulares, portarias de prédios e condomínios, por exemplo.

    Além do registro facial, essas soluções capturam características fisiológicas das nossas impressões digitais, voz, geometria e vascularização das mãos, DNA e até a íris dos olhos. Esse último tipo, inclusive, virou assunto após a chegada da Tools for Humanity no Brasil. A empresa é a principal parceira do protocolo World e está fazendo a chamada “verificação de humanidade” dos brasileiros.

    Segundo o documento Radar Tecnológico: Biometria e Reconhecimento Facial, da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), a solução consegue identificar uma pessoa porque realiza uma análise técnica por “meios matemáticos e estatísticos das características fisiológicas ou comportamentais de um indivíduo”.

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    A biometria levanta um debate sobre vigilância versus segurança. (Imagem: Getty Images)

    Para diferenciar uma pessoa de outra, os sistemas analisam os seguintes padrões 

    • Curvaturas, espaçamentos e núcleos, no caso das impressões digitais;
    • Distância entre os olhos, da boca até o queixo, da ponta do nariz ao queixo;
    • Textura da pele, poros, rugas e manchas, no caso da face; 
    • Picos de frequência de fala, timbre, padrão espectral, ritmo, entonação e velocidade da fala, no caso de reconhecimento de voz.

    O estudo da ANPD explica que hoje em dia essa tecnologia é melhorada e apoiada por inteligência artificial (IA), machine learning e deep learning. Tudo isso torna a identificação mais rápida e precisa.

    Só que, mesmo levantando os potenciais positivos, a ANPD cita em vários trechos do documento que a biometria e o reconhecimento facial oferecem diversos riscos. Dentre eles estão:

    • Compartilhamento indevido dos dados entre controladores;
    • Coleta não informada dos dados;
    • Intrusão à privacidade e aos direitos e liberdades civis dos titulares de dados;
    • Vieses e efeitos discriminatórios de ordem racial, social, étnica, de gênero e econômica;
    • Identificações errôneas.

    Relembrando, todo esse debate sobre os problemas e polêmicas da TRF e outras soluções de biometria estão nesta outra reportagem do TecMundo.

    Como funciona a biometria nos estádios?

    Mesmo antes das regras do artigo 148 da LGE chegarem, alguns estádios já estavam adaptados à nova exigência de TRF nas catracas de entrada. O Palmeiras é um desses e foi pioneiro neste sentido.

    O clube paulista tem há mais de dois anos instalações que realizam a leitura biométrica facial dos torcedores nas entradas do Allianz Parque, a arena do clube.

    Quem quer assistir a uma partida do clube e entra pelos setores mais comuns precisa adquirir a entrada e cadastrar o rosto em um aplicativo. Depois é só ir para o estádio e fazer a leitura na catraca.

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    Os torcedores do Palmeiras lidam com a biometria desde o final de 2022. (Imagem: Getty Images)

    Outros estádios, como o Mineirão, em Belo Horizonte (MG), permite o acesso de forma mista. Em visita realizada pelo TecMundo, era permitido entrar utilizando QR Code pelo celular, o registro facial ou até mesmo através dos ingressos físicos (muito comumente utilizado por torcidas organizadas).

    Com o artigo 148 da LGE entrando em vigor neste final de semana, ainda não é possível saber exatamente como ficará a entrada nos estádios em todos os setores. Como a lei cita especificamente “catracas”, é possível que outros setores que realizam um acesso mais exclusivo dispensem a TRF. 

    ‘O cambismo zerou’

    A empresa que atuou no pioneirismo do Allianz Parque em relação à TRF foi a Bepass. A companhia foi fundada em 2022 e, logo naquele ano, já conseguiu fechar o contrato para fornecer a tecnologia de biometria para o Palmeiras. Em entrevista ao TecMundo, Ricardo Cadar, fundador e CEO da Bepass, comentou sobre os benefícios da biometria nos estádios.

    Primeiro, ele lembra que a solução para o Palmeiras foi oferecida após reclamações da presidente do clube, Leila Pereira, sobre os casos de cambismo e ingressos falsos. Após apresentar a iniciativa à dirigente, o acordo foi fechado, os testes começaram e tudo foi um sucesso, segundo Cadar.

    “O cambismo zerou [no Allianz Parque] e a questão de ingressos falsificados também. O Palmeiras foi o primeiro clube do mundo com entrada 100% feita com biometria facial. Se não fosse a Leila acreditar [no projeto], poucos clubes acreditariam”, comenta.

    Depois do case considerado de sucesso no estádio alviverde, a Bepass assinou novos contratos e se tornou uma das maiores empresas do ramo no Brasil. A companhia já está por trás da TRF nos seguintes estádios: Arena das Dunas (RN), Arena do Grêmio (RS), Arena Fonte Nova (BA), Maracanã (RJ), MorumBIS (SP), Nilton Santos (RJ) e Vila Belmiro (SP), cujo clube dono, o Santos, optou por usar a tecnologia mesmo tendo capacidade inferior a 20 mil pessoas.

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    O cambismo afeta torcedores, já que é muito comum a comercialização de ingressos falsos. (Imagem: Getty Images)

    No caso da Neo Química Arena (SP), estádio do Corinthians, a empresa havia acertado para ser a fornecedora da tecnologia de biometria facial. Contudo, há pouco mais de uma semana o acordo foi rompido pelo time alvinegro, que terá que procurar alguma outra marca para realizar o serviço.

    Quem também citou o combate ao cambismo como um dos principais benefícios da TRF foi Tironi Paz Ortiz, CEO e fundador da Imply, empresa de acessos e ticketing que foi fundada em 2003.

    “A tecnologia torna os ingressos únicos e intransferíveis, vinculados ao rosto do titular, o que inviabiliza 100% as tentativas de fraude e a atuação de cambistas”, garante o executivo que também conversou com o TecMundo.

    O cambismo zerou mesmo?

    Mesmo com a garantia dos empresários, é importante dizer que existem relatos e investigações sobre cambismo e até falsificação de ingressos de estádios que possuem TRF. A reportagem encontrou pelo menos dois relatos diferentes de como funcionaria o esquema de cambismo com biometria facial nos estádios.

    O primeiro deles é que em alguns estádios, nem todas as entradas são realizadas via reconhecimento facial. No caso de áreas VIPs ou para convidados, a exigência da biometria é dispensada, e ingressos para esses setores continuam sendo vendidos principalmente em grupos de WhatsApp. 

    Outro relato lido pela reportagem em redes sociais é que há pessoas vendendo ingressos e repassando para a conta de outras. Elucidando, o cambista venderia o ingresso para uma pessoa e informaria alguém de dentro do clube para transferir digitalmente a entrada para a pessoa que comprou o ticket virtual. Com o ingresso comprado do cambista na conta, o torcedor poderia passar pela câmera e escanear o rosto livremente. 

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    Para assistir jogos em estádios como o do Palmeiras, não é preciso levar nem o celular. (Imagem: Bepass/Divulgação)

    Em relação aos casos de “falsificação de rostos”, o TecMundo noticiou nesta semana sobre a operação Face Off da Polícia Federal. Quadrilhas especializadas estão usando deepfakes e até IA para “roubar” rostos de pessoas e acessarem indevidamente contas do gov.br. 

    O uso dessas soluções nos estádios seria bem mais complexo, já que os locais possuem fiscais e muitas pessoas em volta. Contudo, vale salientar que nenhuma tecnologia é 100% imune a fraudes e ações criminosas ou cibercriminosas.

    Entrando nos estádios em segundos

    Outro fator positivo citado pelos executivos da Bepass e da Imply é a agilidade na entrada nos estádios. Enquanto a Bepass promete que os torcedores gastam dois segundos para passar pelas catracas, a Imply garante que o reconhecimento facial é realizado em um segundo. 

    Ricardo Cadar lembra que, além do futebol, a Bepass atua em eventos esporádicos e a intenção é que grandes shows também tenham acesso realizado via biometria.

    “Como o acesso é igual, temos essa intenção. Estamos nesse trabalho de convencer as produtoras [de shows] que a biometria facial é muito mais segura e rápida”, diz. 

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    O CEO da Bepass revela que um dos argumentos que estão sendo utilizados é que as pessoas nem precisariam fazer um novo cadastro para ir às apresentações musicais. “Quando o torcedor já está cadastrado no sistema, ele pode entrar em qualquer outro evento em locais que tenham contrato com a Bepass, bastando comprar o ingresso”. 

    A Imply é a empresa responsável pela TRF nos estádios Arena Castelão (CE), Arena Fonte Nova (BA), Estádio Beira-Rio (RS), Ligga Arena (PR), Arena Independência (MG), Estádio Ilha do Retiro (PE), Estádio São Januário (RJ), Estádio Presidente Vargas (CE) e Estádio Alfredo Jaconi (RS). Tironi Paz Ortiz afirma que a companhia também está em expansão e que enxerga que a TRF pode ser utilizada em qualquer evento com grandes multidões. 

    “O objetivo é o mesmo: unir segurança, praticidade e uma melhor experiência para o público. Em eventos de grande porte, por exemplo, a tecnologia contribui para reduzir filas, evitar fraudes e garantir que o ambiente seja mais seguro para todos”, sustenta.

    Prisão de procurados e mais segurança

    O tópico de segurança é talvez o mais importante do debate sobre a TRF. De acordo com a Bepass, nos mais de 2 anos de funcionamento no estádio do Palmeiras, a tecnologia já identificou e ajudou a prender 212 pessoas procuradas pela Justiça. E neste ponto é importante explicar um aspecto. 

    As empresas de tecnologia não têm qualquer relação com as forças oficiais de segurança. Para que o banco de dados de registros faciais seja utilizado pelas secretarias de segurança, é preciso que o detentor dos arquivos autorize essa unificação. E os detentores dos dados que fazem a coleta e o armazenamento dos dados biométricos dos torcedores são os clubes de futebol, proprietários dos estádios.

    Ou seja, as prisões ocorreram no Allianz Parque porque o Palmeiras tem uma parceria com as forças policiais e permite que o banco de dados seja utilizado para bater com a lista de procurados. 

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    Em São Paulo, o programa Smart Sampa conta com câmeras espalhadas pela cidade para o monitoramento. (Imagem: Prefeitura de São Paulo/Divulgação)

    Cadar é taxativo quando o assunto é segurança. Além de garantir que o torcedor está em um ambiente mais pacífico, já que teoricamente todos ao seu redor foram identificados, ele defende que a primeira preocupação da empresa é com os dados das pessoas, que são ultrassensíveis. 

    “Nós não fornecemos o banco de dados para nada nem ninguém. E adotamos padrões internacionais de segurança, incluindo criptografia de ponta a ponta. Já estamos trabalhando, inclusive, em soluções para deixar de armazenar as fotos das pessoas e utilizarmos somente templates faciais. Neste segundo semestre já vamos começar esses testes”, revela. 

    No caso, há uma diferença bastante importante entre as fotos dos rostos e os templates. Enquanto as fotos são imagens brutas, geralmente de alta resolução, os templates são apenas representações matemáticas e dados codificados sobre como são as faces das pessoas. Mesmo não sendo totalmente imunes a vazamentos, os templates são mais seguros porque são mais difíceis de serem transformados em informações legíveis para um ser humano. 

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    O Mineirão é um estádio que até as últimas semanas permitia a entrada via QR Code, biometria e bilhetes físicos. (Imagem: André Luiz Dias Gonçalves/TecMundo)

    Ortiz comenta que o primeiro projeto de destaque da Imply foi justamente aplicado em um ambiente de violência. Em 2012, o Chile passava por um momento de protestos estudantis e alta nos números de violência, inclusive, nos estádios. Naquele ano, a empresa fechou um acordo com o governo e desenvolveu um sistema de controle de acesso nos campos. 

    “Já no primeiro mês de operação, a plataforma permitiu identificar e bloquear o acesso de milhares de torcedores com histórico de violência, impedindo sua entrada nos estádios. Os resultados foram imediatos e, em poucas semanas, houve uma redução significativa nos índices de violência, comprovando a eficácia da solução”, destaca. 

    Em relação à proteção dos dados, o CEO afirma que a Imply é certificada com a ISO 27001, por exemplo, que, segundo a marca, somente 0,08% das empresas de tecnologia do Brasil possui. Ele comenta ainda que a empresa é auditada continuamente. 

    O cadastro de menores é um problema? 

    Outro grande debate na história da biometria é sobre o cadastro de menores de idade. De acordo com especialistas sobre o tema, como consta na matéria sobre os problemas da TRF, há casos até mesmo de bebês tendo a biometria facial registrada não só em estádios, mas em outros ambientes.

    Os registros que, repetindo, são geridos pelos clubes, estão sendo feitos com autorização dos pais ou responsáveis das crianças. A questão chega a estar na mira da ANPD, que está elaborando regras específicas para o tratamento de dados de menores de 18 anos. 

    “Eu não vejo problema nisso [cadastrar menores de idade] desde que tenha o consentimento de um maior de idade. Infelizmente, estamos em um país em que as pessoas tentam burlar de qualquer forma”, afirma Cadar. 

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    Alguns estádios cadastram a biometria facial de menores de idade. (Imagem: Getty Images)

    “E o problema é que, se o clube abre uma regra de que pessoas menores de idade não precisam se cadastrar, pessoas adultas vão se passar por menores de idade. E se menores de idade tiverem que entregar o documento, ficará impossível fazer uma entrada rápida nos estádios”, acrescenta. 

    Tironi Paz Ortiz, o CEO e fundador da Imply, não comentou se é a favor ou contra o cadastro de menores de idade. Ele diz apenas que a empresa opera em conformidade com a LGPD e que aguarda a posição da ANPD “para adaptar nossas soluções conforme novas orientações”.

    O que os torcedores pensam sobre a biometria? 

    O principal afetado na questão do reconhecimento facial nos estádios será o torcedor. E como 19 dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro já aderiram ou vão aderir à TRF, a tendência é que milhões de pessoas que gostam de futebol sejam impactadas. 

    A reportagem do TecMundo visitou o Mineirão na partida entre Cruzeiro e Palmeiras, em 1º de junho, e ouviu a opinião de alguns cruzeirenses sobre o tema. E os posicionamentos ficaram divididos. Aqui, neste texto, você verá as posições favoráveis, sendo que na outra matéria sobre o tema você lerá sobre quem é contrário. 

    O policial militar Marcelino Castiglioni foi um dos que disseram apoiar a tecnologia. De maneira pertinente, ele lembra que nós já compartilhamos nossos dados em diversos locais como redes sociais, aplicativos, sites de compra, etc. e que por isso não enxerga problema em ter o rosto lido para acessar os estádios. 

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    “A tecnologia é moldada por seres humanos e inevitavelmente carregará consigo as falhas inerentes aos preconceitos e vieses de quem a projetou. A solução que eu enxergo é o aprimoramento da ferramenta e não a adoção da identificação facial como uma prova cabal ou única na identificação de possíveis infratores”, argumentou sobre possíveis erros da ferramenta.

    Rafael Caldeira Quirino, que é engenheiro mecânico, comenta que a instalação das câmeras será um grande avanço e que se sente mais seguro sabendo que as pessoas estão sendo identificadas. Ele levanta o ponto de que a possibilidade de individualização das punições em casos de violência é um fator importante para que ele seja favorável ao projeto.

    “Na maioria das vezes, as pessoas que cometem delitos dentro dos estádios não são identificadas e acontece, inclusive, uma inversão nesse sentido, onde o clube é punido com perdas de mando de campo, multas, etc.”, diz. 

    “Uma medida como essa [punição ao time] impacta diretamente no planejamento de um clube de futebol com diminuição de receita, perda de resultado esportivo e também os demais torcedores que são lesados por algo que não fizeram”, acrescenta. 

    Outro lado 

    CBF 

    O TecMundo entrou em contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para saber, dentre outras coisas, qual a responsabilidade da entidade e qual a opinião do novo presidente, Samir Xaud, sobre o projeto. Contudo, a reportagem não obteve retorno até o fechamento.

    Ministério da Justiça e Segurança Pública 

    A reportagem também entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). Por nota, a pasta comunicou que desenvolveu em cooperação com outros órgãos o projeto Estádio Mais Seguro. 

    A iniciativa tem o objetivo de “identificar, através do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), pessoas com mandados de prisão em aberto e torcedores com medidas judiciais de restrição quando houver aquisição de ingressos para eventos futebolísticos”. Após a identificação dessas pessoas, elas seriam impedidas de entrar nos estádios. 

    O projeto está em fase de formalização documental, mas já teve provas de conceito em partidas como Brasil x Colômbia, que foi realizada em março deste ano no estádio Mané Garrincha (DF). O Estádio Mais Seguro deve utilizar TRF para ampliar a segurança, já que ainda não o faz. 

    Por último, sobre a Lei Geral do Esporte, o ministério elucidou que não tem nenhuma responsabilidade “relativa à instalação de tecnologia de reconhecimento facial”. 

    ANPD 

    Em extensa nota, a ANPD explicou como tem realizado a fiscalização e a cobrança aos clubes em relação ao cadastro, armazenamento e uso das biometrias faciais dos torcedores. 

    Dentre outras coisas, a entidade esclarece ter solicitado a 23 clubes investigados (Nota Técnica nº 5/2025/FIS/CGF/ANPD e Nota Técnica nº 6/2025/FIS/CGF/ANPD) esclarecimentos quanto à “conformidade legal de eventual prática de tratamento de dados biométricos de torcedores menores de 16 anos de idade como condição necessária para a participação em eventos esportivos”. 

    A Coordenação-Geral de Fiscalização da ANPD também solicitou regularizações aos clubes, que incluem a disponibilização aos torcedores de links com informações claras sobre o tratamento de dados, explicações sobre as finalidades específicas do tratamento de dados biométricos, os direitos dos titulares e as formas de exercício desses direitos e mais. 

    Em relação a como os torcedores devem se portar em relação a casos de uso indevido de dados ou vazamentos, a ANPD recomendou solicitar esclarecimentos aos controladores dos dados (os clubes) e indicou a página de orientações e denúncias para a agência: https://www.gov.br/anpd/pt-br/canais_atendimento/cidadao-titular-de-dados/denuncia-peticao-de-titular.

    *Com colaboração de André Luiz Dias Gonçalves.

  • Biometria facial nos estádios representa ‘sérios riscos aos torcedores’, alerta especialista

    A edição 2025 do Campeonato Brasileiro terá uma grande mudança para os torcedores a partir deste sábado (14): a obrigatoriedade de acesso por meio da biometria facial aos estádios com capacidade acima de 20 mil pessoas. A tecnologia já estava presente em alguns locais, mas agora será ampliada, conforme determina a Lei Geral do Esporte.

    Melhorar a segurança e facilitar o acesso da torcida são algumas das vantagens promovidas, segundo as autoridades. Além disso, o sistema dificulta fraudes recorrentes como a

O mecanismo é utilizado no Maracanã desde 2024, antes da obrigatoriedade, assim como em outros estádios. Allianz Parque, Arena MRV, Beira-Rio, Arena do Grêmio, Castelão, Fonte Nova, São Januário e Nilton Santos são alguns dos que já iniciaram a implementação, estão testando ou utilizando o recurso em todos ou parte dos setores.

No Brasileirão 2025, os estádios Alfredo Jaconi (Juventude), Campos Maia (Mirassol) e Nabi Abi Chedid (Red Bull Bragantino) têm capacidade inferior a 20 mil pessoas e, portanto, não são obrigados a usar a tecnologia, mas isso não significa que ela não estará presente. A Vila Belmiro possui o mecanismo mesmo tendo público limitado a 16 mil pessoas.

De acordo com dados do projeto O Panóptico, cinco empresas controlam o fornecimento da tecnologia para os estádios brasileiros: Imply, Bepass, FacePass, Club System e Tik+. A maioria dos contratos está sob a administração de Bepass e Imply.

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No Mineirão, a entrada dos torcedores ainda acontecia da maneira antiga, usando o ingresso no celular. (Imagem: André Dias/TecMundo)

Quais são os problemas com a tecnologia?

“A implementação de sistemas de reconhecimento facial em estádios de futebol apresenta sérios riscos à privacidade dos torcedores”. Quem afirma é o pesquisador de Assimetrias e Poder na Data Privacy Brasil, Vinícius Silva.

Em conversa com o TecMundo, o especialista da organização que promove a cultura de proteção de dados e direitos digitais listou problemas relacionados à tecnologia. Para ele, há falhas em diversas etapas do processo, que colocam as informações coletadas e os próprios torcedores em risco.

As complicações começam na coleta massiva dos dados, deixando-os expostos a vazamentos, principalmente se armazenados por empresas sem protocolos de segurança robustos. Além disso, os clubes podem usar as imagens dos torcedores em campanhas de marketing sem o consentimento deles, o que não é legal.

Vinícius também cita a integração com bancos de dados policiais, entre os quais o Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), como outro risco significativo. Para ele, isso transforma os estádios em espaços de vigilância em massa, nos quais os torcedores são monitorados para além do ambiente esportivo.

Tais práticas violam o princípio da finalidade específica da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que determina a coleta apenas para objetivos bem definidos e não múltiplas finalidades. Outro princípio desrespeitado é o do consentimento explícito, com os torcedores obrigados a aceitar termos complexos sem a opção de recusa.

Viés algorítmico

De acordo com Silva, os sistemas de biometria facial apresentam um alto índice de viés algorítmico, quando a tecnologia produz resultados discriminatórios, outro grande problema do sistema. Pessoas trans, mulheres, negros e outros grupos marginalizados são os principais alvos dos erros.

Essas falhas acontecem devido à maneira com que os algoritmos de biometria facial em uso no Brasil são treinados. De modo geral, trata-se de tecnologias desenvolvidas em países como Estados Unidos e China, cujas populações são bem diferentes da nossa.

“Os bancos de dados utilizados para treinar os sistemas de reconhecimento facial não incluem rostos diversos, como pessoas negras, indígenas e trans, que tradicionalmente são subrepresentadas nesses conjuntos”, ressaltou. Como vários grupos demográficos do Brasil ficaram de fora, a possibilidade de erros é alta.

No ano passado, um caso de erro da biometria facial ganhou destaque, quando o torcedor do Confiança, João Antônio, foi detido enquanto assistia à final do campeonato sergipano. Em relato no X, ele contou ter sido abordado por oficiais afirmando que a tecnologia o identificou como uma pessoa com mandado de prisão em aberto.

Parece um delinquente, um foragido, mas esse aí sendo conduzido pela polícia SOU EU.

Sábado na final do campeonato sergipano passei uma uma situação que nunca imaginei que fosse possível e venho com vergonha e indignação compartilhar para que algo aconteça e isso não se repita.+ pic.twitter.com/bDsSZSGM75

— Simplesmente João Antônio (@joantoniotb) April 15, 2024

Constrangido, ele foi levado a uma sala da Arena Batistão, em Aracaju (SE), quando as autoridades constataram o erro após a conferência dos documentos. Diante da repercussão do caso, o governo de Sergipe suspendeu o uso do reconhecimento facial no estado, à época.

Uma pesquisa feita nos EUA indica que as mulheres negras são o público com maior possibilidade de enfrentar uma situação de erro da tecnologia. O levantamento indicou que os algoritmos de reconhecimento erram 34% a mais no caso delas, enquanto os erros relacionados aos homens brancos são inferiores a 1%.

Coleta de dados biométricos de crianças

O especialista também cita os riscos à proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Ao coletar dados de menores, os clubes violam a Lei Geral do Esporte, que exige a identificação biométrica somente para maiores de 16 anos. A prática fere o artigo 14 da LGPD, que estabelece requisitos rigorosos para o tratamento dessas informações.

Segundo Silva, o Palmeiras é um dos clubes que descumprem a legislação ao exigir o registro facial de todas as pessoas, incluindo bebês. A violação se estende, ainda, ao artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante o direito à privacidade, imagem e integridade moral, e ao artigo 109, que proíbe a identificação compulsória de adolescentes, exceto em casos de dúvida fundada.

“Os riscos decorrentes dessas práticas são múltiplos e graves. A coleta indiscriminada de dados biométricos de crianças configura uma forma injustificada de vigilância e datificação, especialmente quando alternativas menos invasivas (como uso de CPF ou RG) seriam suficientes para o acesso aos estádios”, destacou.

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Torcedores que forem aos estádios no retorno do Brasileirão terão que usar a tecnologia de reconhecimento facial. (Imagem: André Dias/TecMundo)

Como tornar o sistema mais seguro e eficiente?

Uma forma de mitigar riscos associados ao armazenamento dos dados biométricos é a adoção de criptografia avançada, dificultando acessos indevidos às informações coletadas. O pesquisador destaca, ainda, a necessidade de anonimizar os dados.

Ele defende, também, a exclusão dos dados após o evento, exceto em casos nos quais essas informações sejam necessárias. Outra maneira de melhorar a segurança é a realização de auditorias independentes para verificar a conformidade com a legislação e identificar possíveis vulnerabilidades no sistema.

“É importante lembrar que proteção de dados pessoais não é a mesma coisa que segurança da informação. Não é uma discussão se os dados estão seguros, mas se as pessoas são livres para dispor dos seus dados e se são livres para fruir de direitos sociais, como cultura e esporte, sem serem obrigadas a ceder algo tão sensível”, opinou.

Vinícius também sugere medidas como ajustar os mecanismos de consentimento de coleta, focando em linguagem acessível e opções reais de escolha, e fiscalização efetiva da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Em casos de abusos ou violações, clubes e empresas estariam sujeitos a penalidades aplicadas pelo órgão.

Criar canais para que os torcedores exerçam seus direitos, incluindo acesso, retificação e solicitação de exclusão de dados, e a proibição da coleta de dados de crianças e adolescentes, são outras mudanças recomendadas para tornar o uso da tecnologia mais ético e legal.

“Eles vão cometer erros”

O coordenador da Rede de Observatórios da Segurança e do Panóptico, Pablo Nunes, tem opinião semelhante. De acordo com ele, os debates envolvendo a implantação da tecnologia não tiveram a participação de torcedores nem pesquisadores, acontecendo de maneira acelerada e sem salvaguardas relevantes.

Dessa forma, ele acredita que o sistema já nasce fadado a cometer erros de identificação e aos vazamentos, devido à falta de parâmetros legais. “O que a gente fala hoje nesse cenário de hiperconexão é que bancos de dados massivos serão vazados, fatalmente. Não é se, é quando serão vazados”, alertou.

Em um cenário de vazamento, esses dados biométricos seriam aproveitados por quadrilhas que “roubam” rostos para fraudar sistemas de autenticação facial. Recentemente, a Polícia Federal desmantelou um grupo que invadia contas Gov.br e tem monitorado outros com métodos semelhantes.

Nunes também destaca que uma das premissas da tecnologia, a de combater os cambistas, não tem funcionado nos estádios com biometria, sendo este um caso mais de investigação policial. Em postagens no X, é comum encontrar cambistas afirmando haver formas de driblar o reconhecimento facial.

O especialista também lembra que a identificação de acusados de racismo e outros crimes independe da biometria, refutando outra justificativa de quem defende o mecanismo. Além disso, Pablo destaca que setores nobres, como camarotes, não exigem o reconhecimento facial em alguns estádios, reforçando preconceitos.

O que pensam os torcedores?

Principais impactados pela mudança, os torcedores têm visões diferentes a respeito da biometria facial nos estádios. Enquanto alguns defendem a tecnologia, outros acreditam que ela não trará mudanças significativas na segurança nem no acesso aos jogos.

A reportagem do TecMundo esteve no jogo Cruzeiro x Palmeiras, no Mineirão, em Belo Horizonte (MG), pela 10ª rodada do Brasileirão 2025, e ouviu torcedores sobre o tema. O estádio já iniciou os testes em um de seus setores, e deve ampliar o uso agora.

O professor, jornalista e pesquisador, Igor Figueiredo, afirmou não gostar da ideia de controle de pessoas atrelada à tecnologia. Para ele, o sistema pode até ser útil, porém deve ser “usado com parcimônia e cuidado”, por se tratar de uma ferramenta com problemas de viés algorítmico.

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Alguns torcedores preferem continuar usando os ingressos convencionais. (Imagem: André Dias/TecMundo)

Igor ressalta a importância do gerenciamento dos dados por pessoas que tenham formação e capacidade para lidar com as inconsistências do sistema. “A proteção de dados também deve ser uma preocupação, a venda de informações biossociais, por exemplo, deve ser proibida”, afirmou.

A designer gráfica, Melissa Gadelha, comentou que prefere o método atual, com ingresso via QR Code, mas vê a tecnologia como interessante, especialmente para identificar foragidos. Ela também afirmou ter um sentimento misto em relação ao compartilhamento dos dados e acredita que “testes mais rigorosos” deveriam ser feitos antes da ampliação.

O que diz a ANPD?

Ao TecMundo, a ANPD informou que acompanha a implantação da tecnologia nos estádios, tendo instaurado processo de fiscalização contra 23 clubes para averiguar o tratamento dos dados biométricos dos torcedores, especialmente em relação aos menores de 16 anos.

Também foram feitas solicitações de regularização sobre a disponibilidade de informações claras, detalhadas e acessíveis, divulgando como esses dados são tratados nas plataformas de venda online de ingressos. Os documentos encaminhados pelos times estão atualmente em análise.

Sobre a possibilidade de vazamentos e o viés algorítmico, a agência afirma ter iniciado estudos para estabelecer parâmetros e orientações para garantir o tratamento legítimo e seguro dos dados. Em casos de vazamentos e abusos, o órgão orienta procurar os responsáveis pelo controle e armazenamento e/ou as autoridades policiais.

A ANPD possui uma página dedicada a orientações sobre como e quando fazer denúncias, que pode ser consultada aqui. No site do órgão, também há cartilhas que auxiliam os torcedores e cidadãos em geral na fiscalização do armazenamento de seus dados.

Palmeiras se posiciona

Questionado pela reportagem, o Palmeiras ressaltou a importância da tecnologia para a segurança dos torcedores e o combate ao cambismo. Quanto à coleta de dados de menores, afirmou que o procedimento segue todas as normas legais.

“O cadastramento facial é obrigatório para todos os adquirentes de ingressos (Avanti ou público geral). O registro de menores de idade é realizado exclusivamente com o consentimento expresso e informado dos responsáveis legais, em estrita conformidade com o artigo 14 da LGPD e com o ECA”, respondeu.

O clube também também destacou que vai ampliar as ações de comunicação sobre a tecnologia a partir da entrada em vigor da obrigatoriedade e que mantém diálogo permanente com a ANPD, atendendo às solicitações e diretrizes emitidas pela agência.

E você, o que pensa a respeito da biometria facial nos estádios? Acredita que ela vai ajudar a melhorar o acesso e a segurança, além de acabar com a ação de cambistas? Dê a sua opinião nas redes sociais do TecMundo.

*Com colaboração de Carlos Palmeira.

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