Routine chega como uma proposta clara dentro do terror sci-fi: colocar o jogador em uma base lunar completamente deserta, onde sistemas analógicos, máquinas hostis e poucos recursos definem o ritmo da experiência.
O jogo aposta na tensão e se baseia em uma atmosfera construída com cuidado, onde silêncio, vulnerabilidade e ambientes retrô-futuristas são priorizados para manter a sensação de perigo sempre presente.
A ideia funciona bem nos primeiros minutos, especialmente pela ambientação detalhada e pelo trabalho de som, que reforça a sensação de isolamento na lua.
Apesar de oscilar em outros aspectos, Routine chama atenção por apostar em uma narrativa de exploração e descoberta lenta, que se desenrola enquanto o jogador conecta cabos, ativa sistemas e evita máquinas hostis pelo caminho.
É um jogo que prioriza atmosfera antes de tudo, e seus melhores momentos surgem justamente quando a base lunar parece viva — mesmo quando está completamente vazia.
A atmosfera de Routine é tensa e cheia de suspense do início ao fim
A ambientação de Routine é, sem dúvidas, o ponto mais consistente da experiência. A estética retrô-futurista permeia todos os setores da estação, combinando monitores analógicos, ferrugem, cabines de comando desgastadas e iluminação mínima. É um tipo de visual que cria contraste entre tecnologia ultrapassada e a vastidão fria da lua para reforçar a sensação de abandono total.
A direção artística é cuidadosa ao explorar o design industrial da base. Cada cenário parece construído com propósito, desde corredores estreitos até salas de manutenção repletas de detalhes. Em alguns pontos, chega até lembrar a Ishimura de Dead Space.
A paleta de cores, mais apagada e densa, também ajuda a reforçar a tensão e faz com que o jogador se sinta constantemente observado, mesmo quando nada acontece de fato.
O silêncio também trabalha a favor da atmosfera. Routine evita o uso frequente de trilhas ou efeitos sonoros altos, permitindo que a própria ausência de estímulos seja responsável pela inquietação.
É um recurso eficiente, já que muitas vezes o medo surge de pequenos ruídos mecânicos, ecos distantes ou da simples falta de resposta. É como dizem por aí: “O silêncio também é uma resposta”.
A sensação de vulnerabilidade é reforçada pela imprevisibilidade dos encontros com máquinas inimigas. Elas aparecem de forma irregular e podem interromper o ritmo de exploração sem aviso prévio, o que mantém o jogador em alerta durante quase todo o tempo. Vale destacar que não é o tipo de terror focado em sustos fáceis, mas sim na tensão acumulada.

Essa combinação faz com que Routine funcione muito bem como uma experiência atmosférica, sustentada por ambientação sólida e uma leitura interessante do terror baseado no silêncio, no desconforto e na constante incerteza sobre o que está à espreita.
Explorar a base lunar é um verdadeiro deleite
A exploração também é um dos maiores acertos do jogo. Os setores abandonados da base lunar são detalhados de maneira que incentiva o jogador a vasculhar cada espaço em busca de pistas, ferramentas e rotas alternativas.
A sensação de isolamento na lua é transmitida por meio de ambientes amplos, corredores vazios e estruturas que parecem congeladas no tempo.

A lua, apesar de representar o desconhecido, funciona como cenário coeso para a jornada. A transição entre áreas externas e internas mantém a imersão elevada, e a própria configuração da base dá ao jogador a impressão de que há sempre algo fora do quadro de visão. Isso ajuda a tornar a exploração mais envolvente, mesmo em trechos onde pouco (ou quase nada) acontece.
Outro ponto que reforça a imersão é o uso de puzzles e tarefas operacionais, que muitas vezes obrigam o jogador a voltar por caminhos já percorridos.
O backtracking não soa como um problema, porque os ambientes são ricos o suficiente para que cada retorno pareça uma nova ameaça, já que nunca está claro se algo mudou enquanto você estava em outro lugar.

A arma CAT, que funciona como uma ferramenta multifuncional, tem uma boa ideia conceitual, mas pode confundir no início. Sua utilidade fica mais clara conforme o jogador entende sua linguagem analógica, mesmo que sua execução não seja tão intuitiva nos primeiros minutos.
Sensação de perseguição está ali, mas a escassez de encontros traz monotonia demais
Os inimigos de Routine são eficientes quando aparecem, mas a frequência reduzida desses encontros acaba prejudicando a sensação de ameaça.
A ideia de ser caçado por máquinas hostis funciona bem na teoria — mas na prática, longos períodos sem qualquer interação diminuem o impacto dos poucos momentos de perseguição.

Essa lacuna também afeta a dinâmica de tensão. Quando encontros são raros demais, o medo deixa de ser constante e passa a ser algo mais pontual, o que reduz o potencial do terror baseado na imprevisibilidade. Há boas cenas de confronto, mas elas não se repetem o suficiente para manter o ritmo alto.
Vale destacar também que a furtividade é um recurso interessante dentro da proposta de Routine e permite com que o jogador evite detecção com movimentos calculados e uso cuidadoso do ambiente. No entanto, esses sistemas não evoluem com o tempo e permanecem praticamente iguais do início ao fim — o que, certamente, limita sua profundidade.
Os dispositivos analógicos, embora coerentes com o conceito do jogo, também sofrem com essa falta de progressão. Eles reforçam a estética e a sensação de estar em um lugar antigo e perigoso, mas não apresentam novas camadas de uso à medida que a história avança.

No geral, a escassez de confrontos e a ausência de evolução mecânica criam momentos de monotonia, mesmo em um cenário que se esforça muito para manter o suspense.
Ritmo inconsistente faz a experiência se perder no espaço
O ponto crítico de Routine é o ritmo inconsistente. O jogo alterna entre momentos de tensão bem construída e longos trechos onde pouco acontece, o que pode quebrar o engajamento em alguns pontos. Essa irregularidade torna a progressão menos fluida do que poderia ser.

A construção lenta da narrativa também contribui para essa sensação. Apesar de ter uma boa ideia central, a história é fragmentada e exige que o jogador conecte diversas informações dispersas pela base. Esse formato pode funcionar em alguns casos, mas aqui acaba prejudicando o impacto da trama.
Em vários momentos, há a impressão de que o jogo está segurando conteúdo para reforçar a atmosfera, mas essa estratégia nem sempre funciona a favor do ritmo geral. O excesso de silêncio e a ausência de eventos relevantes quebram totalmente a tensão e tornam a jogatina um pouco monótona.

Outro elemento afetado por esse ritmo irregular é a própria exploração. Quando a ambientação é tão forte, o jogador espera que a narrativa acompanhe esse nível de cuidado, mas a falta de desenvolvimento deixa partes da experiência desconexas.
Como resultado, Routine passa a sensação de que sua jornada termina antes de explorar todo o potencial do universo que apresenta.
Vale a pena jogar Routine?
Bem, Routine é uma experiência marcante no que diz respeito à atmosfera. A direção de arte, a ambientação retrô-futurista e o foco na tensão silenciosa fazem do jogo um exemplo sólido de terror sci-fi que valoriza sensação antes de ação. Seu visual e seu áudio sustentam grande parte da experiência.
Por outro lado, limitações importantes, como a narrativa um pouco rasa, sistemas pouco aprofundados e um ritmo que oscila entre momentos tensos e longas pausas, impedem que o jogo alcance seu potencial completo. Há boas ideias, mas elas nem sempre se desenvolvem como deveriam.

Ainda assim, para quem busca um terror atmosférico focado em exploração e suspense, Routine oferece uma proposta clara, coesa e visualmente impactante. É uma experiência curta, envolvente e com identidade forte — mesmo que distante de todo o potencial máximo que poderia entregar.
Nota do Voxel — 78
- Pontos positivos
- Ambientação, gráficos e imersão são os grandes destaques de Routine
- Design de áudio também é um ponto chave na experiência
- Puzzles intrigantes e alto teor de backtracking
- Pontos negativos
- Apesar dos momentos tensos, ritmo oscila até demais com a calmaria
- A arma CAT é um pouco complexa de entender no início
- Narrativa tem boa premissa, mas não desenvolve bem a ponto de ser tão envolvente
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